quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Dia de Jano


Aproxima-se o dia de Jano (primeiro dia de Janeiro), o romano deus dos portões que possuía duas faces, uma voltada para a frente (visualizando o futuro) e a outra voltada para trás (observando o passado). Enfim chegamos ao tempo de avaliação do ano que passou e de formulações de planos ou promessas para os 365 dias vindouros.  Confesso que algumas vezes, esta foi, para mim, uma época de angústias. Felizmente esta situação não é uma regra, e neste momento sou grata ao universo e a mim mesma pelo ano que passou. 

Ao final de 2011, tive que retroceder alguns passos na minha caminhada, e reagi à esta situação, que ocorreu fora de meu controle, com muita ansiedade. Porém determinei a mim mesma aceitar as coisas como elas estavam se apresentando, e crer que a situação em que eu me encontrava era exatamente o "como" e "onde" eu deveria estar. Ao contrário do que possa parecer, esta não foi uma posição de acomodação.

Eu me encontrava descontente em relação a alguns aspectos da minha vida e resolvi que iria dar o primeiro passo no sentido de modificá-las.  Para alguns menos otimistas pode ser até inacreditável, mas bastou o primeiro passo para que as mudanças fossem acontecendo. Aliás, acredito que o início desta transformação foi aceitar as coisas como elas eram, e principalmente, reconhecer que eu queria e tinha o poder de mudar.
Durante todo o ano eu me mantive nesta postura de aceitação, ao mesmo tempo oferecendo oportunidade para o novo e alerta para reconhecer as oportunidades. 

Atualmente me encontro em uma posição em que jamais imaginaria estar, há um ano atrás. Apesar de ainda não ter resolvido todos os meus problemas, e não ser feliz em tempo integral, meus objetivos foram alcançados além do determinado. Colocar meus planos no papel, com metas específicas e datas para serem concluídas me ajudou muito, mas acredito que o ponto principal foi a mudança na minha maneira de pensar.
Simplesmente mudei o foco da minha atenção, dando mais importância para os aspectos positivos da vida e de mim mesma, agradecendo diariamente por todas as coisas boas que eu já havia conquistado e acreditando possuir total capacidade de realizar tudo o que eu tinha planejado.

Hoje meus pensamentos insistiram em me perguntar o que eu quero para mim no próximo ano. Acredito que será um período mais tranquilo, onde consolidarei as mudanças ocorridas e os espaços conquistados. Meus maiores desejos são saúde, energia e organização. Como acredito que somos responsáveis pela vida que temos, em todos os sentidos, sei que esta conquista também depende em grande parte de mim mesma. Portanto meu foco para 2013 será uma boa alimentação, exercícios físicos frequentes e muita meditação. Além de continuar mantendo uma atitude positiva e de aceitação perante a vida, pois sinto que ainda vem muita coisa boa por aí.

Dayse Rodrigues

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Amor pra Recomeçar

Feliz aniversário para mim!





Amor pra Recomeçar
(Frejat)

Eu te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo...

E com os que erram
Feio e bastante
Que você consiga
Ser tolerante...

Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar
Prá recomeçar...

Eu te desejo muitos amigos
Mas que em um
Você possa confiar
E que tenha até
Inimigos
Prá você não deixar
De duvidar...

Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar
Prá recomeçar...

Eu desejo!
Que você ganhe dinheiro
Pois é preciso
Viver também
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo
O dono de quem...

Desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar...

Eu desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar
Prá recomeçar
Prá recomeçar...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A condição básica para a felicidade




"A condição básica para a felicidade é a liberdade.
Não estamos nos referindo à liberdade política, e sim à liberdade que conquistamos quando nos libertamos da raiva, do desespero, do ciúme e das ilusões. Buddha os descreveu como venenos. Enquanto eles estão em nosso coração, é impossível ser feliz."

Thich Nhat Hanh.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ISTO TAMBÉM PASSARÁ




Havia, certa vez, um rei sábio e bom, que já se encontrava no fim de sua vida. Certo dia, pressentindo a chegada da morte, chamou seu único filho, que o sucederia no trono, tirou do dedo um anel e deu-o a ele dizendo:
- Meu filho, quando fores rei, leva sempre contigo este anel. Nele há uma inscrição. Quando estiveres vivendo situações extremas de glória ou de dor, tira-o e lê o que há nele.

E o rei morreu, e seu filho passou a reinar em seu lugar, sempre usando o anel que o pai lhe deixara. Passado algum tempo, surgiram conflitos com um reino vizinho, que acabaram culminando numa terrível guerra. O jovem rei, à frente do seu exército partiu para enfrentar o inimigo. No auge da batalha, seus companheiros lutavam bravamente; mortos, feridos, tristeza, dor, o rei lembra-se do anel; tira-o e lê a inscrição:

ISTO TAMBÉM PASSARÁ.

E ele continua a luta. Perde batalhas, vence outras tantas, mas ao final, sai vitorioso. Retorna, então, ao seu reino e, coberto de glória, entra em triunfo na cidade. O povo o aclama. Neste momento ele se lembra do seu velho e sábio pai. Tira o anel e lê:

ISTO TAMBÉM PASSARÁ.

"Tudo é impermanente. Tudo que está sujeito ao surgimento está sujeito à cessação".
(Buda)

A compreensão da impermanência nos proporciona confiança, paz e alegria. A impermanência não conduz obrigatoriamente ao sofrimento. Sem ela, a vida não existiria. Sem a impermanência, sua filha não cresceria e se tornaria uma linda mulher. Sem a impermanência, os regimes políticos opressivos nunca mudariam. Mas nós achamos que a impermanência nos faz sofrer. O Budha deu o exemplo do cachorro que foi atingido por uma pedra e ficou zangado com a pedra. Não é a impermanência que nos faz sofrer, mas sim o desejo de que as coisas sejam permanentes, quando na verdade não são.
(Thich Nhat Hanh; The Heart of the Buddha's Teaching)

Texto publicado anteriormente em: https://www.facebook.com/centrozenfloripa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Me arrependo de coisas que disse




"Me arrependo de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio".


Pense em alguém poderoso.


Essa pessoa briga e grita como uma galinha ou olha em calmo silêncio, como um lobo? Lobos não gritam. Eles têm uma aura de força e poder. Observam em silêncio. Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.


Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.


O erro não dito é um silencioso correto.


Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia e continua a trabalhar mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota. Olhe. Sorria. Silencie. Vá em frente.


Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar. Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.


Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques. Não é verdade. Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir. Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal. Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.


Você pode escolher o silêncio.


Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenócrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar: "me arrependo de coisas que disse, mas jamais de meu silêncio”.


Durante os próximos sete dias, responda com o silêncio, quando for necessário. Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. Use principalmente o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não ter que responder em alguns momentos. Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas. E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.


Aldo Novak.


Publicado inicialmente em: http://pensandozen.blogspot.com.br/2008/03/me-arrependo-de-coisas-que-disse.html

Para saber mais: http://adilsonmaestri.blogspot.com.br/2012/06/impecabilidade-da-palavra.html#links

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Que Você Quer Saber de Verdade

(Marisa Monte)

Vai sem direção
Vai ser livre
A tristeza não
Não resiste
Solte os seus cabelos ao vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo
No seu peito faz
Faça sua dor dançar
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair,
Cada nuvem que passar
Ouve a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Um Koan Budista


Existe um Koan budista que fala de um monge que fugindo de um urso faminto, chega à beira de um penhasco e tem que decidir entre saltar e ser devorado. Resolve pular, mas, no meio da queda, consegue se agarrar a uma raiz que escapava das pedras. Para piorar, quando o pobre monge olha para baixo, vê um tigre andando em círculos, esperando que ele caia para atacar. Exatamente neste momento, dois esquilos em busca de comida começam a roer a raiz onde agarrava. Com o urso em cima, o tigre embaixo e os esquilos ao lado, o monge avista, ao alcance de sua mão, uma moita de morangos silvestres com uma fruta bem grande, vermelha, madura e suculenta. Ele colhe o morango e saboreia, dizendo: "Que delícia!"


Dayse Rodrigues.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Epitáfio de um bispo anglicano




Quando eu era jovem e livre,
sonhava em mudar o mundo.
Na maturidade, descobri que o mundo não mudaria.
Então resolvi transformar meu país.
Depois de algum esforço, terminei por entender
que isto também era impossível.
No final de meu anos procurei mudar minha família,
mas eles continuaram a ser como eram.

Agora, no leito de morte, descubro que minha missão teria sido mudar a mim mesmo.

Se tivesse feito isto, eu teria sido capaz
de transformar minha família.
Então, com um pouco de sorte, esta mudança afetaria meu país e - quem sabe - o mundo inteiro.
Epitáfio de um bispo anglicano da Abadia
de Westminster, século XII

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tempo da travessia



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...


É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...


Fernando Pessoa.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Não há nenhum lugar para onde fugir




Uma das coisas que te apercebes quando observas a natureza do eu é que aquilo que fazes e o que te acontece são a mesma coisa. Ao te aperceberes que não existes separadamente de tudo o mais, percebes o que é a responsabilidade: és responsável por tudo o que experimentas. Não podes voltar a dizer, “Ele enfureceu-me” Como é que ele pôde enfurecer-te? Só tu podes enfurecer-te. Compreender isto faz mudar o modo de te relacionares com o mundo e de lidares com a tensão. Então apercebes-te que a tensão, que em geral tem a ver com separação, é criada pelo processamento mental das tuas experiências. Sempre que surge uma ameaça, um contratempo, um entrave, a nossa reação imediata é rejeitar, é prepararmo-nos mentalmente ou fisicamente para lutar ou fugir. Se te tornas no bloqueio – no medo, na dor, na cólera – e o vives plenamente, sem julgares ou sem fugires, deixando-o ir, deixa então de haver bloqueio. Na realidade não há maneira de saíres dele; não podes fugir. Não há nenhum lugar para onde fugires, não há nada de onde fugires: és tu.

John Daido Loori Roshi

Texto publicado originalmente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/n%C3%A3o-h%C3%A1-nenhum-lugar-para-onde-fugir/10150311995800712 em:

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ASSIM MESMO




Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.

Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil, assim mesmo.

Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.

Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto assim mesmo.

O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.

Se você tem Paz e é Feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja Feliz assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja que, no final das contas, é entre você e DEUS.
Nunca foi entre você e as outras pessoas.

Madre Teresa de Calcutá

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

À procura do ego


             
              Compreender a natureza do ego e seu modo de funcionamento é de uma importância vital se desejarmos nos libertar do sofrimento. A idéia de se desvencilhar da influência do ego pode nos deixar perplexos, sem dúvida, porque mexemos no que acreditamos ser nossa identidade fundamental.
                Estamos conscientes do fato de que a cada instante, desde nosso nascimento, nosso corpo se transforma continuamente e nossa mente é palco de inúmeras experiências novas. Mas, instintivamente, imaginamos que em algum lugar, em nosso âmago, se localiza uma entidade duradoura que confere uma realidade sólida e uma permanência à nossa pessoa. Isso nos parece tão evidente que não achamos necessário examinar mais atentamente essa intuição. Há, então, um forte apego às noções de "eu" e de "meu" - meu corpo, meu nome, minha mente, minhas posses, meus amigos etc. - que traz ou um desejo de possessão, ou um sentimento de repulsa em relação ao outro. É assim que a dualidade irredutível entre mim e outrem se cristaliza os pensamentos. Esse processo nos assimila a uma entidade imaginária. O ego é, também, o sentimento exacerbado da importância de si que decorre dessa construção mental. Ele coloca sua identidade fictícia no centro de todas as nossas experiências.
                Entretanto, como veremos a seguir, ao analisarmos seriamente a natureza do eu, perceberemos que é impossível colocar o dedo sobre qualquer entidade distinta que lhe corresponda. Afinal de contas, vê-se que o ego não é senão um conceito que associamos ao continuum de experiências que é a nossa consciência.
                Nossa identificação com o  ego é fundamentalmente disfuncional, pois está em desacordo com a realidade. Atribuímos, com efeito, a esse ego qualidades de permanência, de singularidade e autonomia, enquanto a realidade é,  ao contrário, variável, múltipla, interdependente.  O ego fragmenta o mundo e cristaliza de uma vez por todas a divisão que estabelece entre "eu" e "outro", "meu" e "não meu". Fundamentado num engano, ele é Constantemente ameaçado pela realidade, o que cria em nós um profundo sentimento de insegurança. Conscientes de sua vulnerabilidade, tentamos por todos os meios protegê-lo e reforçá-lo, sentindo aversão por tudo o que o ameaça e atração por tudo o que o sustenta. Dessas pulsões de atração e repulsa nasce uma multidão de emoções conflituosas.
                Poderíamos pensar que, consagrando a maior parte de nosso tempo a satisfazer e reforçar esse ego, estaríamos adotando a melhor estratégia possível para encontrar a felicidade. Mas é uma aposta perdida, pois é o contrário que acontece. Imaginando um ego autônomo, estamos em contradição com a natureza das coisas, o que se exprime por frustração e tormentos sem fim. Consagrar toda  a nossa energia a essa entidade imaginária tem efeitos deletérios sobre a qualidade de nossa vida.
                O ego só pode oferecer uma confiança em si factícia, fundada em atributos precários - o poder, o sucesso, a beleza e a força física, o brio intelectual e a opinião dos outros - e sobre tudo o que constitui nossa imagem. A verdadeira confiança em si é outra coisa. É paradoxalmente, uma qualidade natural da ausência de ego. Dissipar a ilusão do ego combina com um sentimento de liberdade que não está mais submetido às contingências emocionais. A confiança em si é acompanhada de uma vulnerabilidade em face dos julgamentos de outrem e de uma aceitação interior das circunstâncias, quaisquer que sejam elas. Essa liberdade se manifesta por um sentimento de abertura a tudo que se apresenta. Não se trata da frieza distante, do desapego seco ou da indiferença que se imagina, por vezes, quando se representa o desapego budista. mas de uma disponibilidade benevolente e corajosa que se estende a todos os seres.
                Quando o ego não se compraz com seus triunfos, ele se alimenta de seus fracassos colocando-se como vítima. Alimentando por suas constantes ruminações, seu sofrimento lhe confim ar sua existência tanto quanto sua euforia. Que ele se sinta no auge, diminuído, ofendido ou ignorado, o ego se consolida dando atenção apenas a si mesmo. "O ego é o resultado de uma atividade mental que cria e 'mantêm em vida' uma entidade imaginária em nossa mente". É um impostor que se ilude com o próprio jogo. Uma das funções da visão penetrante, vipashyana, é desmascarar a impostura do ego.
                Na verdade, nós não somos esse ego, não somos essa raiva, não somos esse desespero. Nosso nível de experiência mais fundamental é o da consciência pura, essa qualidade primeira da qual falamos anteriormente e que é o fundamento de toda experiência, toda emoção, todo raciocínio, todo conceito e toda construção mental,  o ego inclusive. Mas, atenção, essa consciência pura, essa "presença desperta" não é uma nova entidade, mais sutil ainda do que o ego: ela é uma qualidade fundamental de nossa corrente mental.
                O ego não é nada mais do que uma construção mental mais duradoura do que as outras porque é constantemente reforçada por nossas cadeias de pensamentos. Isso não impede esse conceito ilusório de ser desprovido de existência própria. Esse rótulo tenaz só se fixa sobre o fluxo de nossa consciência graças à cola mágica da confusão mental.
                Para desmascarar a impostura do eu, é preciso levar a investigação até o fim.
                Aquele que suspeita de um ladrão em sua casa deve inspecionar cada cômodo, cada canto, cada esconderijo possível até ter certeza de que não há ninguém. Só assim ele poderá ficar em paz.


 Matthieu Ricard - A Arte de Meditar

Este texto foi publicado anteriormente em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/%C3%A0-procura-do-ego/10150444599375712

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A força de ganhar e a força de perder


"Viver nos obriga ao exercício constante de saber abrir e fechar, expandir e contrair, ganhar e perder, ampliar e reduzir, amar e deixar ir. Isso também acontece em nosso corpo: cada inspiração é seguida pela expiração, na qual nos despedimos do ar velho que já cumpriu sua função. Cada sístole é seguida de uma diástole. Um movimento ininterrupto, no qual a Vida canta seu mantra sutilmente sonoro: tomar e soltar, tomar e soltar, tomar e soltar. Somos felizes e bem sucedidos quando nos colocamos em sintonia com ambas as forças da Vida: a força da expansão e a força da retração, a força de ganhar e a força de perder.”

Joan Garriga

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Oração da Paz




Hoje é dia se São Francisco de Assis, e é de sua autoria a oração mais bonita que eu conheço:

Oração da Paz

Senhor! Fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

São Francisco de Assis

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Conto Indígena




Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse: - Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.Um é Mau - É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.

O outro é Bom - É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade,humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: - Qual lobo vence?

O velho índio respondeu:


" - Aquele que você alimenta".

Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/conto-ind%C3%ADgena/10150109688070712

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ser Zen



Ser zen não é ficar o tempo todo
de papo para o ar, 

achando tudo lindo sem fazer nada.

Ser zen é ser ativo.

É estar forte e decidido.
 
E caminhar com leveza,
 
mas com certeza.
É auxiliar a quem precisa, no que precisa
 
e não no que se idealiza.

Ser zen é ser simples.

Da simplicidade dos santos e dos sábios.
 
Que não precisam de nada.
 

Nada mais que o necessário.
Para o encontro, a comida,
a cama, a diversão, o trabalho.

Ser zen é fluir com o fluir da vida.

Sem drama, sem complicação.
Na hora de comer come comendo,
sem ver televisão,
 
sem falar desnecessário.

Sente o sabor do alimento, a textura, o condimento.
Sente a ternura (ou não) da mão que plantou e colheu,
 
da terra que recebeu e alimentou,
do sol que deu energia,
 
da água que molhou,
 
de todos os elementos que tornam possível um pequeno prato de comida à nossa frente.
 

Sente gratidão, não desperdiça.
Come com alegria.
Para satisfazer a fome de todos os famintos.
Bebe para satisfazer a sede de todos os sedentos.
Agradecendo e se lembrando de onde vem e para onde vai.

A chuva, o sol, o vento.
O guarda, o policial, o bandido, o açougueiro,
 
o juiz, a feiticeira, o padre, a arrumadeira, o bancário e o banqueiro, o servente e o garçom, a médica e o doutor, o enfermeiro e o doente, a doença e a saúde, a vida e a morte, a imensidão e o nada, o vazio e o cheio, o tudo e cada parte.

Ser zen é ser livre e saber os seus limites.
Ser zen é servir, é cuidar, é respeitar, compartilhar.
Ser zen é hospitalidade, é ternura, é acolhida.

Ser zen é o kyosaku, bastão de madeira sábia, que acorda sem ferir, que lembra deste momento, dos pés no chão como indígenas, sentindo a Terra-Mãe sustentando nossos sonhos, nossas fantasias, nossas dores, nossas alegrias.

Ser zen é morrer...

Morrer para a dualidade, para o falso, a mentira, a iniqüidade.
Ser zen é renascer a cada instante.
Na flor, na semente, na barata, no bicho do livro na estante.

Ser zen é jamais esquecer de um gesto, de um olhar,
de um carinho trocado no presente-futuro­passado.

Ser zen é não carregar rancores, ódios, cismas nem terrores.
Ser zen é trocar pneu, as mãos sujas de graxa.
Ser zen é ser pedreiro, fazendo e refazendo casas.

Ser zen é ser simplesmente quem somos e nada mais.
É ser a respiração que respira em cada ação.
É fazer meditação, sentar-se para uma parede,
olhar para si mesmo.

Encontrar suas várias faces, seus sorrisos, suas dores.
É entregar-se ao desconhecido aspecto do vazio.
Não ter medo do medo.

Não se fazer ou, se o fizer, assim o perceber e voltar.
Ser zen é voltar para o não-saber,
pois não sabemos quase nada.

Não sabemos o começo, nem o meio, muito menos o fim.
E tudo tem começo, meio e fim.

Ser zen é estar envolvido nos problemas da cidade,
da rua, da comunidade.

É oferecer soluções, ter criatividade, sorrir dos erros,
se desculpar e sempre procurar melhorar.

Ser zen é estar presente.

Aqui, neste mesmo lugar.
 
Respirando simplesmente, observando os pensamentos, memórias, aborrecimentos, alegrias e esperanças.

Quando?
 
Agora, neste instante!

É estar bem aqui onde quando se fala já se foi.
Tempo girando,
correndo,
passando,
 
e nós passando com ele.
 
Sem separação.

Ser zen é Ser Tempo.
Ser zen é Ser Existência.


 MONJA COEN

Para saber mais - http://www.monjacoen.com.br/

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O céu e o Inferno




Fala-se que em um tempo, vivia um jovem guerreiro, que ao jogar diariamente com a vida e a morte, devido a sua profissão, chegou a questionar-se sobre o problema do além . Desejava saber o que era o céu e o inferno . Quando seu coração já não podia mais suportar este mistério, dirigiu-se a uma montanha em busca de um sacerdote ancião, para que o iluminasse com seus ensinamentos. Ao encontrá-lo, saudou-o reverentemente e lhe disse :
“Oh! Venerável senhor desejaria que me instruísse sobre o que é o céu e o inferno” , ao que o mestre respondeu : “Esta pergunta é mais própria de um camponês que de um guerreiro como tu, a não ser que sejas um camponês disfarçado” . “Como dizes? ” Replicou o jovem samurai . “Digo que nem pareces um guerreiro, não somente por tua infantil pergunta, senão também pelas roupas que levas” . A tudo isto, o acidental discípulo já estava vermelho de ira por semelhante insulto, e o sacerdote continuou . “Tua falta de controle afirma minha suposição” . E já não suportando mais, o samurai desouda a sua espada e sua ira . Nesse momento, com um gesto enérgico o monge lhe diz : “Observa, isto é o inferno,” o jovem sentiu-se como que atravessado por uma flecha de vergonha, baixando a cabeça e guardando cerimonialmente a espada falou : “Perdão senhor, agora compreendo teu ensinamento” ao que o mestre respondeu : “Observa, isto é o céu” .

* Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/aonde-%C3%A9-o-c%C3%A9u-e-aonde-%C3%A9-o-inferno/10150133075975712

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

AMOR E SOLIDÃO



Onde está o silêncio? Onde está a solidão? Onde está o Amor?

Definitivamente, eles não podem ser encontrados em lugar nenhum exceto na base de nosso próprio ser. Lá, nas profundezas silenciosas, não há mais distinção entre o Eu e o Não-eu. Há perfeita paz, porque estamos assentados no Amor infinito, criativo e redentor. Lá encontramos Deus, que os olhos não podem ver, e em Quem, como diz São Paulo, “temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28). Nele também descobrimos a solidão, como disse São João da Cruz, descobrimos que o Tudo e o Nada se encontram e são o Mesmo.
Se não há silêncio além e dentro das muitas palavras de doutrina, não há religião, apenas uma ideologia religiosa. Porque religião vai além das palavras e ações, e chega à verdade última somente no silêncio e no Amor. Onde falta este silêncio, onde há apenas “muitas palavras” e não a Palavra Única há muita agitação e atividade, mas não há paz, nem pensamento profundo, nem compreensão, nem tranqüilidade interior. Onde não há paz, não há luz nem amor. A mente hiperativa aparenta a si mesma estar desperta e produtiva, mas está sonhando, levada pela fantasia e pela dúvida. Somente no silêncio e na solidão, na tranqüilidade da adoração, na paz reverente da oração, na adoração na qual o ego-eu inteiro silencia e se rebaixa na presença do Deus Invisível para receber Sua única Palavra de Amor; somente nessas “atividades” que são “não-ações”, o espírito desperta verdadeiramente do sonho de uma existência variada, confusa e agitada.
Precisamente devido a isso, o homem moderno ocidental tem medo da solidão. Ele é incapaz de ficar sozinho, em silêncio. E está transmitindo sua enfermidade mental e espiritual aos homens do Oriente. A Ásia vê-se gravemente tentada pela violência e pelo ativismo do Ocidente e aos poucos está perdendo o controle de seu tradicional respeito pela sabedoria silenciosa. Por isso, é ainda mais necessário agora redescobrir o clima de solidão e de silêncio: não que todo o mundo possa se afastar e viver sozinho. Mas, em momentos de silêncio, de meditação, de esclarecimento e de paz, aprendemos a guardar silêncio e ficarmos sozinhos em toda parte. Aprendemos a viver na atmosfera de solidão mesmo no meio das multidões. Não “divididos”, mas um com todos no Amor de Deus. Pois aprendemos a ser Ouvintes que são não Não-Ouvintes e aprendemos a esquecer todas as palavras e escutar apenas a Palavra Única que parece ser a Não-Palavra. Abrimos a porta interior do coração para os silêncios infinitos do Espírito, de cujos abismos jorra sem falha o amor e se dá a todos. Somente em Seu silêncio pode-se distinguir a verdade das palavras, não em seu isolamento, mas em seu apontar para unidade central do Amor. Todas as palavras, então, dizem somente uma coisa: que tudo é amor.

Thomas Merton

Este texto foi publicado inicialmente no blog Nuvem Vazia.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

SATORI




Se quisermos expressar o que é a iluminação em termos psicológicos,
eu diria que ela é um estado em que o indivíduo está completamente em 
sintonia com a sua realidade interna e externa, em que está plenamente 
consciente da realidade e a capta de modo integral.  Ele está consciente
dela, isto é, não se trata do seu cérebro, nem qualquer outra parte do 
seu organismo, mas ele, o homem inteiro.  Ele está consciente dela; não 
como se a realidade fosse um objeto que ele capta com seu pensamento, 
mas ele capta a flor, o cachorro, o homem, em sua realidade completa.

Aquele que desperta está aberto e é capaz de responder ao mundo, e ele pode ser 
aberto e ser capaz de responder ao mundo porque renunciou a agarrar-se a
si mesmo como uma coisa, e assim tornou-se vazio e capaz de perceber.  
Estar iluminado significa “o completo despertar da personalidade total 
diante da realidade.”

(Erich Fromm, "A Psicologia do Satori ou Iluminação")

Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/erich-fromm-a-psicologia-do-satori-ou-ilumina%C3%A7%C3%A3o/10150122038665712

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Conto Zen




Certo dia, um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um 
Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, sua beleza e o 
encanto daquele momento, o samurai sentiu-se repentinamente inferior.
.
Ele então disse ao Mestre:
- "Pôr que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo
 
estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me
 
sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei
 
medo algum. Pôr que estou me sentindo assustado agora?"
.
O Mestre falou:
- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei."
.
Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o samurai estava
 
ficando mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto
estava vazio, o samurai perguntou novamente:
 
- "Agora você pode me responder pôr que me sinto inferior?"
.
O Mestre o levou para fora. Era um noite de lua cheia e a lua estava
 
justamente surgindo no horizonte. Ele disse:
- "Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu
 
lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca
 
houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: " Pôr que me
 
sinto inferior diante de você? " Esta árvore é pequena e aquela é grande -
 
este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso."
.
O samurai então argumentou:
- "Isto se dá porque elas não podem se comparar."
.
E o Mestre replicou:
Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não
 
compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é
 
e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não
 
importa, você é você mesmo.
.
Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto
 
de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos
 
rico se este canto desaparecer.
.
Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma
 
unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou
 
inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na
 
Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Essência - Conto Zen


Na China, havia um monge Zen, chamado mestre Dori, que, por fazer zazen empoleirado num pinheiro pára-sol, fora alcunhado de mestre Ninho de Passarinho.

Um poeta muito célebre, Sakuraten, foi visitá-lo e, ao vê-lo fazer zazen, disse-lhe:
"Tomai cuidado, que isso é perigoso; podereis, um dia, cair do pinheiro!"
"De maneira nenhuma," respondeu mestre Dori. "Vós é que correis perigo de um dia cair."
Sakuraten refletiu: "Com efeito, vivo dominado por paixão, é como brincar com o raio". 
E perguntou ao mestre Zen: "Qual é a verdadeira essência do Buddhismo?"
Mestre Dori respondeu: "Não façais nada violento, praticai somente o aquilo que é justo e equilibrado."
"Mas até uma criança de três anos sabe disso!" exclamou o poeta.
"Sim, mas é uma coisa difícil de ser praticada até mesmo por um velho de oitenta anos..." completou o mestre.


* Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/hist%C3%B3ria-zen-ess%C3%AAncia/10150135240185712

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Feliz.





Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me disse que a felicidade era a chave para a vida. Quando eu fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi “feliz”. Eles me disseram que eu não entendi a pergunta, e eu lhes disse que eles não entendiam a vida.

John Lennon


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O JARDIM DAS BORBOLETAS


Com o tempo você vai percebendo que
para ser feliz com outra pessoa,
você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama
ou acha que ama, e que não quer nada com você,
definitivamente, não é a pessoa da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e,
principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...
é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar,
não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você..!


Mário Quintana.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A arte de ser feliz



Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CARTA DO CHEFE SEATTLE




Em 1854, "O Grande Chefe Branco" em Washington fez uma oferta por uma grande área de território indígena e prometeu uma "reserva" para os índios.
A resposta do Chefe Seattle, aqui reproduzida na íntegra, tem sido considerada uma das declarações mais belas e profundas já feitas sobre o meio-ambiente:

“Como você pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? A idéia é estranha para nós.
Se nós não somos donos da frescura do ar e do brilho da água, como você pode comprá-los?
Cada parte da Terra é sagrada para o meu povo.

Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada névoa
nas florestas escuras, cada inseto transparente, zumbindo,
é sagrado na memória e na experiência de meu povo.

A energia que flui pelas árvores traz consigo a memória
e a experiência do meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo as memórias
do homem vermelho.

Os mortos do homem branco se esquecem da sua pátria quando
vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos nunca se esquecem desta bela Terra,
pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da Terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os cervos, o cavalo,
a grande águia, estes são nossos irmãos.
Os picos rochosos, as seivas nas campinas, o calor do corpo do pônei,
e o homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que

quer comprar nossa terra, ele pede muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que reservará para nós um lugar
onde poderemos viver confortavelmente.
Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos.
Então vamos considerar sua oferta de comprar a terra.
Mas não vai ser fácil.
Pois esta terra é sagrada para nós.

A água brilhante que se move nos riachos e rios não é
simplesmente água, mas o sangue de nossos ancestrais.
Se vendermos a terra para vocês, vocês devem se lembrar de que
ela é o sangue sagrado de nossos ancestrais.
Se nós vendermos a terra para vocês, vocês devem se lembrar de que
ela é sagrada, e vocês devem ensinar a seus filhos que ela é sagrada
e que cada reflexo do além na água clara dos lagos fala de coisas
da vida de meu povo.
O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai.

Os rios nossos irmãos saciam nossa sede.
Os rios levam nossas canoas e alimentam nossas crianças.
Se vendermos nossa terra para vocês, vocês devem lembrar-se de
ensinar a seus filhos que os rios são irmãos nossos, e de vocês,
e consequentemente vocês devem ter para com os rios o mesmo
carinho que têm para com seus irmãos.
Nós sabemos que o homem branco não entende nossas maneiras.
Para ele um pedaço de terra é igual ao outro, pois ele é um estranho
que chega à noite e tira da terra tudo o que precisa.
A Terra não é seu irmão, mas seu inimigo e quando ele o vence,
segue em frente.
Ele deixa para trás os túmulos de seus pais, e não se importa.
Ele seqüestra a Terra de seus filhos, e não se importa.

O túmulo de seu pai, e o direito de primogenitura de seus filhos
são esquecidos.
Ele ameaça sua mãe, a Terra, e seu irmão, do mesmo modo, como
coisas que comprou, roubou, vendeu como carneiros ou contas brilhantes.
Seu apetite devorará a Terra e deixará atrás de si apenas um deserto.
Não sei.
Nossas maneiras são diferentes das suas.
A visão de suas cidades aflige os olhos do homem vermelho.
Mas talvez seja porque o homem vermelho é selvagem e não entende.

Não existe lugar tranqüilo nas cidades do homem branco.
Não há onde se possa escutar o abrir das folhas na primavera, ou
o ruído das asas de um inseto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não entendo.
A confusão parece servir apenas para insultar os ouvidos.
E o que é a vida se um homem não pode ouvir o choro solitário
de um curiango ou as conversas dos sapos, à noite, em volta de uma lagoa.
Sou um homem vermelho e não entendo.

O índio prefere o som macio do vento lançando-se sobre a face do lago, e
o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva de meio-dia, ou
perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas
compartilham o mesmo hálito – a fera, a árvore, o homem,
todos compartilham o mesmo hálito.
O homem branco parece não perceber o ar que respira.
Como um moribundo há dias esperando a morte,
ele é insensível ao mau cheiro.

Mas se vendermos nossa terra, vocês devem se lembrar de que o ar
é precioso para nós, que o ar compartilha seus espíritos
com toda a vida que ele sustenta.

Mas se vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la separada e sagrada,
como um lugar onde mesmo o homem branco pode ir para sentir o vento
que é adoçado pelas flores da campina.

Assim, vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra.
Se resolvermos aceitar, eu imporei uma condição – o homem branco
deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.

Sou um selvagem e não entendo de outra forma.
Vi mil búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo
homem branco que os matou da janela de um trem que passava.

Sou um selvagem e não entendo como o cavalo de ferro que fuma
pode se tornar mais importante que o búfalo, que nós só matamos
para ficarmos vivos.

O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais acabassem, o homem morreria
de uma grande solidão do espírito.
Pois tudo o que acontece aos animais, logo acontece ao homem.
Todas as coisas estão ligadas.

Vocês devem ensinar a seus filhos que o chão sob seus pés
é as cinzas de nossos avós.
Para que eles respeitem a terra, digam a seus filhos que a Terra
é rica com as vidas de nossos parentes.
Ensinem as seus filhos o que ensinamos aos nossos,
que a Terra é nossa mãe.
Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra.
Se os homens cospem no chão, eles cospem em si mesmos.

Isto nós sabemos – a Terra não pertence ao homem –
o homem pertence à Terra.
Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
Todas as coisas estão ligadas.

Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra.
O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela.
O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.

Mesmo o homem branco, cujo Deus anda e fala com ele como de
amigo para amigo, não pode ficar isento do destino comum.

Podemos ser irmãos, afinal de contas.
Veremos.
De uma coisa nós sabemos, que o homem branco pode um dia
descobrir – nosso Deus é o mesmo Deus.
Vocês podem pensar agora que vocês O possuem como desejam
possuir nossa terra, mas vocês não podem fazê-lo.
Ele é Deus do homem, e Sua compaixão é igual tanto para com
o homem vermelho quanto para com o branco.
A Terra é preciosa para Ele, e danificar a Terra é acumular desprezo
por seu criador.
Os brancos também passarão, talvez antes de todas as outras tribos.

Mas em seu desaparecimento vocês brilharão com intensidade,
queimados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e para algum
propósito especial lhes deu domínio sobre esta terra
e sobre o homem vermelho.
Esse destino é um mistério para nós, pois não entendemos quando os
búfalos são mortos, os cavalos selvagens são domados, os recantos
secretos da floresta carregados pelo cheiro de muitos homens, e a vista
das montanhas maduras manchadas por fios que falam.

Onde está o bosque?
Acabou.
Onde está a águia?
Acabou.
O fim dos vivos e o começo da sobrevivência.”
Extraído de The Irish Press, sexta-feira, 4 de junho de 1976 .

Este texto foi publicado originalmente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/carta-do-chefe-seattle-na-%C3%ADntegra/10150283901435712

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ensinamentos sobre o amor.


"Um pai pode pensar que é "dono" de seu filho: "Você tem que obedecer a tudo o que eu determinar. Estude isso, faça aquilo ou não o reconhecerei como filho." Um rapaz pode dizer para a sua namorada: "Você não pode fazer compras a tal hora, não pode usar esse perfume, não pode usar esta cor." Amar dessa maneira tóxica é como colocar grilhões no amado. O amor que certa vez pareceu um castelo transformou-se em uma verdadeira prisão. Quando a pintura começa a descolar, as grades da prisão aparecem, e ambos sentem-se aprisionados, incapazes de escapar. O contrato de casamento torna-se uma sentença de prisão perpétua sem possibilidade de libertação. Separação ou continuar juntos, as duas situações são insuportáveis. Isso é verdadeiro não só para casamentos como também para relacionamentos entre pais e filhos, amigos, mestres e alunos. É fundamental aprendermos a amar preservando a liberdade do ser amado, permitindo que a individualidade mútua se mantenha. Esse é o tipo de amor que o Buda ensinou."

Thich Nhat Hanh em "Ensinamentos sobre o amor - desenvolvendo a capacidade de amar com alegria e compaixão."

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mar Português



"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu"


(Fernando Pessoa – 1888-1935)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Transformações na Consciência.


Este livro foi escrito por Thich Nhat Hanh, um dos autores budistas que eu mais gosto de ler. Seus livros são deliciosos e seus ensinamentos profundos. "Transformações na Consciência" é um livro dedicado à psicologia budista, assunto por demais interessante. Pelo menos no meu ponto de vista. Tendo como base os "Cinquenta Versos sobre a Natureza da Consciência" o autor faz com que possamos compreender como funciona a nossa mente.

Os Cinquenta Versos constituem a corrente mais importante do pensamento budista na Índia e explicam o modo como a mente funciona, a partir deste ponto de vista. Eles são divididos em seis partes, onde a primeira delas nos descreve a consciência armazenadora, a segunda refere-se à manas, a parte três define a consciência mental, a parte quatro é destinada à consciência dos sentidos, a quinta parte nos introduz à natureza da realidade e a última parte nos fala sobre o caminho da prática. O autor dispensa para cada uma das seis partes dos Cinquenta Versos um capítulo do livro, o que o torna um guia completo para quem quer estudar a base da psicologia budista. Na minha opinião não é um livro para ser lido uma vez apenas, é para ser estudado.

Eu gostei tanto do livro que não respeitei a sugestão do autor de ler o livro aos poucos, por ser de difícil compreensão. Porém tenho que confessar que não consegui lê-lo até o final. Mas não por preguiça, falta de interesse ou de entendimento, mas por ter sido muito inspirador. Percebi que existiam algumas "sementes" em mim que precisavam ser regadas (ainda estou regando), fechei o livro e fui em busca desse objetivo. Acredito que quando voltar à leitura do mesmo preciso voltar ao começo do livro, preciso fazer anotações, e quem sabe, conseguirei chegar à última página.