segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Que Você Quer Saber de Verdade

(Marisa Monte)

Vai sem direção
Vai ser livre
A tristeza não
Não resiste
Solte os seus cabelos ao vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo
No seu peito faz
Faça sua dor dançar
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair,
Cada nuvem que passar
Ouve a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Um Koan Budista


Existe um Koan budista que fala de um monge que fugindo de um urso faminto, chega à beira de um penhasco e tem que decidir entre saltar e ser devorado. Resolve pular, mas, no meio da queda, consegue se agarrar a uma raiz que escapava das pedras. Para piorar, quando o pobre monge olha para baixo, vê um tigre andando em círculos, esperando que ele caia para atacar. Exatamente neste momento, dois esquilos em busca de comida começam a roer a raiz onde agarrava. Com o urso em cima, o tigre embaixo e os esquilos ao lado, o monge avista, ao alcance de sua mão, uma moita de morangos silvestres com uma fruta bem grande, vermelha, madura e suculenta. Ele colhe o morango e saboreia, dizendo: "Que delícia!"


Dayse Rodrigues.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Epitáfio de um bispo anglicano




Quando eu era jovem e livre,
sonhava em mudar o mundo.
Na maturidade, descobri que o mundo não mudaria.
Então resolvi transformar meu país.
Depois de algum esforço, terminei por entender
que isto também era impossível.
No final de meu anos procurei mudar minha família,
mas eles continuaram a ser como eram.

Agora, no leito de morte, descubro que minha missão teria sido mudar a mim mesmo.

Se tivesse feito isto, eu teria sido capaz
de transformar minha família.
Então, com um pouco de sorte, esta mudança afetaria meu país e - quem sabe - o mundo inteiro.
Epitáfio de um bispo anglicano da Abadia
de Westminster, século XII

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tempo da travessia



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...


É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...


Fernando Pessoa.