quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ser Zen



Ser zen não é ficar o tempo todo
de papo para o ar, 

achando tudo lindo sem fazer nada.

Ser zen é ser ativo.

É estar forte e decidido.
 
E caminhar com leveza,
 
mas com certeza.
É auxiliar a quem precisa, no que precisa
 
e não no que se idealiza.

Ser zen é ser simples.

Da simplicidade dos santos e dos sábios.
 
Que não precisam de nada.
 

Nada mais que o necessário.
Para o encontro, a comida,
a cama, a diversão, o trabalho.

Ser zen é fluir com o fluir da vida.

Sem drama, sem complicação.
Na hora de comer come comendo,
sem ver televisão,
 
sem falar desnecessário.

Sente o sabor do alimento, a textura, o condimento.
Sente a ternura (ou não) da mão que plantou e colheu,
 
da terra que recebeu e alimentou,
do sol que deu energia,
 
da água que molhou,
 
de todos os elementos que tornam possível um pequeno prato de comida à nossa frente.
 

Sente gratidão, não desperdiça.
Come com alegria.
Para satisfazer a fome de todos os famintos.
Bebe para satisfazer a sede de todos os sedentos.
Agradecendo e se lembrando de onde vem e para onde vai.

A chuva, o sol, o vento.
O guarda, o policial, o bandido, o açougueiro,
 
o juiz, a feiticeira, o padre, a arrumadeira, o bancário e o banqueiro, o servente e o garçom, a médica e o doutor, o enfermeiro e o doente, a doença e a saúde, a vida e a morte, a imensidão e o nada, o vazio e o cheio, o tudo e cada parte.

Ser zen é ser livre e saber os seus limites.
Ser zen é servir, é cuidar, é respeitar, compartilhar.
Ser zen é hospitalidade, é ternura, é acolhida.

Ser zen é o kyosaku, bastão de madeira sábia, que acorda sem ferir, que lembra deste momento, dos pés no chão como indígenas, sentindo a Terra-Mãe sustentando nossos sonhos, nossas fantasias, nossas dores, nossas alegrias.

Ser zen é morrer...

Morrer para a dualidade, para o falso, a mentira, a iniqüidade.
Ser zen é renascer a cada instante.
Na flor, na semente, na barata, no bicho do livro na estante.

Ser zen é jamais esquecer de um gesto, de um olhar,
de um carinho trocado no presente-futuro­passado.

Ser zen é não carregar rancores, ódios, cismas nem terrores.
Ser zen é trocar pneu, as mãos sujas de graxa.
Ser zen é ser pedreiro, fazendo e refazendo casas.

Ser zen é ser simplesmente quem somos e nada mais.
É ser a respiração que respira em cada ação.
É fazer meditação, sentar-se para uma parede,
olhar para si mesmo.

Encontrar suas várias faces, seus sorrisos, suas dores.
É entregar-se ao desconhecido aspecto do vazio.
Não ter medo do medo.

Não se fazer ou, se o fizer, assim o perceber e voltar.
Ser zen é voltar para o não-saber,
pois não sabemos quase nada.

Não sabemos o começo, nem o meio, muito menos o fim.
E tudo tem começo, meio e fim.

Ser zen é estar envolvido nos problemas da cidade,
da rua, da comunidade.

É oferecer soluções, ter criatividade, sorrir dos erros,
se desculpar e sempre procurar melhorar.

Ser zen é estar presente.

Aqui, neste mesmo lugar.
 
Respirando simplesmente, observando os pensamentos, memórias, aborrecimentos, alegrias e esperanças.

Quando?
 
Agora, neste instante!

É estar bem aqui onde quando se fala já se foi.
Tempo girando,
correndo,
passando,
 
e nós passando com ele.
 
Sem separação.

Ser zen é Ser Tempo.
Ser zen é Ser Existência.


 MONJA COEN

Para saber mais - http://www.monjacoen.com.br/

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O céu e o Inferno




Fala-se que em um tempo, vivia um jovem guerreiro, que ao jogar diariamente com a vida e a morte, devido a sua profissão, chegou a questionar-se sobre o problema do além . Desejava saber o que era o céu e o inferno . Quando seu coração já não podia mais suportar este mistério, dirigiu-se a uma montanha em busca de um sacerdote ancião, para que o iluminasse com seus ensinamentos. Ao encontrá-lo, saudou-o reverentemente e lhe disse :
“Oh! Venerável senhor desejaria que me instruísse sobre o que é o céu e o inferno” , ao que o mestre respondeu : “Esta pergunta é mais própria de um camponês que de um guerreiro como tu, a não ser que sejas um camponês disfarçado” . “Como dizes? ” Replicou o jovem samurai . “Digo que nem pareces um guerreiro, não somente por tua infantil pergunta, senão também pelas roupas que levas” . A tudo isto, o acidental discípulo já estava vermelho de ira por semelhante insulto, e o sacerdote continuou . “Tua falta de controle afirma minha suposição” . E já não suportando mais, o samurai desouda a sua espada e sua ira . Nesse momento, com um gesto enérgico o monge lhe diz : “Observa, isto é o inferno,” o jovem sentiu-se como que atravessado por uma flecha de vergonha, baixando a cabeça e guardando cerimonialmente a espada falou : “Perdão senhor, agora compreendo teu ensinamento” ao que o mestre respondeu : “Observa, isto é o céu” .

* Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/aonde-%C3%A9-o-c%C3%A9u-e-aonde-%C3%A9-o-inferno/10150133075975712

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

AMOR E SOLIDÃO



Onde está o silêncio? Onde está a solidão? Onde está o Amor?

Definitivamente, eles não podem ser encontrados em lugar nenhum exceto na base de nosso próprio ser. Lá, nas profundezas silenciosas, não há mais distinção entre o Eu e o Não-eu. Há perfeita paz, porque estamos assentados no Amor infinito, criativo e redentor. Lá encontramos Deus, que os olhos não podem ver, e em Quem, como diz São Paulo, “temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28). Nele também descobrimos a solidão, como disse São João da Cruz, descobrimos que o Tudo e o Nada se encontram e são o Mesmo.
Se não há silêncio além e dentro das muitas palavras de doutrina, não há religião, apenas uma ideologia religiosa. Porque religião vai além das palavras e ações, e chega à verdade última somente no silêncio e no Amor. Onde falta este silêncio, onde há apenas “muitas palavras” e não a Palavra Única há muita agitação e atividade, mas não há paz, nem pensamento profundo, nem compreensão, nem tranqüilidade interior. Onde não há paz, não há luz nem amor. A mente hiperativa aparenta a si mesma estar desperta e produtiva, mas está sonhando, levada pela fantasia e pela dúvida. Somente no silêncio e na solidão, na tranqüilidade da adoração, na paz reverente da oração, na adoração na qual o ego-eu inteiro silencia e se rebaixa na presença do Deus Invisível para receber Sua única Palavra de Amor; somente nessas “atividades” que são “não-ações”, o espírito desperta verdadeiramente do sonho de uma existência variada, confusa e agitada.
Precisamente devido a isso, o homem moderno ocidental tem medo da solidão. Ele é incapaz de ficar sozinho, em silêncio. E está transmitindo sua enfermidade mental e espiritual aos homens do Oriente. A Ásia vê-se gravemente tentada pela violência e pelo ativismo do Ocidente e aos poucos está perdendo o controle de seu tradicional respeito pela sabedoria silenciosa. Por isso, é ainda mais necessário agora redescobrir o clima de solidão e de silêncio: não que todo o mundo possa se afastar e viver sozinho. Mas, em momentos de silêncio, de meditação, de esclarecimento e de paz, aprendemos a guardar silêncio e ficarmos sozinhos em toda parte. Aprendemos a viver na atmosfera de solidão mesmo no meio das multidões. Não “divididos”, mas um com todos no Amor de Deus. Pois aprendemos a ser Ouvintes que são não Não-Ouvintes e aprendemos a esquecer todas as palavras e escutar apenas a Palavra Única que parece ser a Não-Palavra. Abrimos a porta interior do coração para os silêncios infinitos do Espírito, de cujos abismos jorra sem falha o amor e se dá a todos. Somente em Seu silêncio pode-se distinguir a verdade das palavras, não em seu isolamento, mas em seu apontar para unidade central do Amor. Todas as palavras, então, dizem somente uma coisa: que tudo é amor.

Thomas Merton

Este texto foi publicado inicialmente no blog Nuvem Vazia.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

SATORI




Se quisermos expressar o que é a iluminação em termos psicológicos,
eu diria que ela é um estado em que o indivíduo está completamente em 
sintonia com a sua realidade interna e externa, em que está plenamente 
consciente da realidade e a capta de modo integral.  Ele está consciente
dela, isto é, não se trata do seu cérebro, nem qualquer outra parte do 
seu organismo, mas ele, o homem inteiro.  Ele está consciente dela; não 
como se a realidade fosse um objeto que ele capta com seu pensamento, 
mas ele capta a flor, o cachorro, o homem, em sua realidade completa.

Aquele que desperta está aberto e é capaz de responder ao mundo, e ele pode ser 
aberto e ser capaz de responder ao mundo porque renunciou a agarrar-se a
si mesmo como uma coisa, e assim tornou-se vazio e capaz de perceber.  
Estar iluminado significa “o completo despertar da personalidade total 
diante da realidade.”

(Erich Fromm, "A Psicologia do Satori ou Iluminação")

Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/erich-fromm-a-psicologia-do-satori-ou-ilumina%C3%A7%C3%A3o/10150122038665712

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Conto Zen




Certo dia, um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um 
Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, sua beleza e o 
encanto daquele momento, o samurai sentiu-se repentinamente inferior.
.
Ele então disse ao Mestre:
- "Pôr que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo
 
estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me
 
sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei
 
medo algum. Pôr que estou me sentindo assustado agora?"
.
O Mestre falou:
- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei."
.
Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o samurai estava
 
ficando mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto
estava vazio, o samurai perguntou novamente:
 
- "Agora você pode me responder pôr que me sinto inferior?"
.
O Mestre o levou para fora. Era um noite de lua cheia e a lua estava
 
justamente surgindo no horizonte. Ele disse:
- "Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu
 
lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca
 
houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: " Pôr que me
 
sinto inferior diante de você? " Esta árvore é pequena e aquela é grande -
 
este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso."
.
O samurai então argumentou:
- "Isto se dá porque elas não podem se comparar."
.
E o Mestre replicou:
Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não
 
compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é
 
e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não
 
importa, você é você mesmo.
.
Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto
 
de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos
 
rico se este canto desaparecer.
.
Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma
 
unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou
 
inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na
 
Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Essência - Conto Zen


Na China, havia um monge Zen, chamado mestre Dori, que, por fazer zazen empoleirado num pinheiro pára-sol, fora alcunhado de mestre Ninho de Passarinho.

Um poeta muito célebre, Sakuraten, foi visitá-lo e, ao vê-lo fazer zazen, disse-lhe:
"Tomai cuidado, que isso é perigoso; podereis, um dia, cair do pinheiro!"
"De maneira nenhuma," respondeu mestre Dori. "Vós é que correis perigo de um dia cair."
Sakuraten refletiu: "Com efeito, vivo dominado por paixão, é como brincar com o raio". 
E perguntou ao mestre Zen: "Qual é a verdadeira essência do Buddhismo?"
Mestre Dori respondeu: "Não façais nada violento, praticai somente o aquilo que é justo e equilibrado."
"Mas até uma criança de três anos sabe disso!" exclamou o poeta.
"Sim, mas é uma coisa difícil de ser praticada até mesmo por um velho de oitenta anos..." completou o mestre.


* Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/hist%C3%B3ria-zen-ess%C3%AAncia/10150135240185712

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Feliz.





Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me disse que a felicidade era a chave para a vida. Quando eu fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi “feliz”. Eles me disseram que eu não entendi a pergunta, e eu lhes disse que eles não entendiam a vida.

John Lennon


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O JARDIM DAS BORBOLETAS


Com o tempo você vai percebendo que
para ser feliz com outra pessoa,
você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama
ou acha que ama, e que não quer nada com você,
definitivamente, não é a pessoa da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e,
principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...
é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar,
não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você..!


Mário Quintana.