segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Não há nenhum lugar para onde fugir




Uma das coisas que te apercebes quando observas a natureza do eu é que aquilo que fazes e o que te acontece são a mesma coisa. Ao te aperceberes que não existes separadamente de tudo o mais, percebes o que é a responsabilidade: és responsável por tudo o que experimentas. Não podes voltar a dizer, “Ele enfureceu-me” Como é que ele pôde enfurecer-te? Só tu podes enfurecer-te. Compreender isto faz mudar o modo de te relacionares com o mundo e de lidares com a tensão. Então apercebes-te que a tensão, que em geral tem a ver com separação, é criada pelo processamento mental das tuas experiências. Sempre que surge uma ameaça, um contratempo, um entrave, a nossa reação imediata é rejeitar, é prepararmo-nos mentalmente ou fisicamente para lutar ou fugir. Se te tornas no bloqueio – no medo, na dor, na cólera – e o vives plenamente, sem julgares ou sem fugires, deixando-o ir, deixa então de haver bloqueio. Na realidade não há maneira de saíres dele; não podes fugir. Não há nenhum lugar para onde fugires, não há nada de onde fugires: és tu.

John Daido Loori Roshi

Texto publicado originalmente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/n%C3%A3o-h%C3%A1-nenhum-lugar-para-onde-fugir/10150311995800712 em:

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ASSIM MESMO




Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.

Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil, assim mesmo.

Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.

Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto assim mesmo.

O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.

Se você tem Paz e é Feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja Feliz assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja que, no final das contas, é entre você e DEUS.
Nunca foi entre você e as outras pessoas.

Madre Teresa de Calcutá

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

À procura do ego


             
              Compreender a natureza do ego e seu modo de funcionamento é de uma importância vital se desejarmos nos libertar do sofrimento. A idéia de se desvencilhar da influência do ego pode nos deixar perplexos, sem dúvida, porque mexemos no que acreditamos ser nossa identidade fundamental.
                Estamos conscientes do fato de que a cada instante, desde nosso nascimento, nosso corpo se transforma continuamente e nossa mente é palco de inúmeras experiências novas. Mas, instintivamente, imaginamos que em algum lugar, em nosso âmago, se localiza uma entidade duradoura que confere uma realidade sólida e uma permanência à nossa pessoa. Isso nos parece tão evidente que não achamos necessário examinar mais atentamente essa intuição. Há, então, um forte apego às noções de "eu" e de "meu" - meu corpo, meu nome, minha mente, minhas posses, meus amigos etc. - que traz ou um desejo de possessão, ou um sentimento de repulsa em relação ao outro. É assim que a dualidade irredutível entre mim e outrem se cristaliza os pensamentos. Esse processo nos assimila a uma entidade imaginária. O ego é, também, o sentimento exacerbado da importância de si que decorre dessa construção mental. Ele coloca sua identidade fictícia no centro de todas as nossas experiências.
                Entretanto, como veremos a seguir, ao analisarmos seriamente a natureza do eu, perceberemos que é impossível colocar o dedo sobre qualquer entidade distinta que lhe corresponda. Afinal de contas, vê-se que o ego não é senão um conceito que associamos ao continuum de experiências que é a nossa consciência.
                Nossa identificação com o  ego é fundamentalmente disfuncional, pois está em desacordo com a realidade. Atribuímos, com efeito, a esse ego qualidades de permanência, de singularidade e autonomia, enquanto a realidade é,  ao contrário, variável, múltipla, interdependente.  O ego fragmenta o mundo e cristaliza de uma vez por todas a divisão que estabelece entre "eu" e "outro", "meu" e "não meu". Fundamentado num engano, ele é Constantemente ameaçado pela realidade, o que cria em nós um profundo sentimento de insegurança. Conscientes de sua vulnerabilidade, tentamos por todos os meios protegê-lo e reforçá-lo, sentindo aversão por tudo o que o ameaça e atração por tudo o que o sustenta. Dessas pulsões de atração e repulsa nasce uma multidão de emoções conflituosas.
                Poderíamos pensar que, consagrando a maior parte de nosso tempo a satisfazer e reforçar esse ego, estaríamos adotando a melhor estratégia possível para encontrar a felicidade. Mas é uma aposta perdida, pois é o contrário que acontece. Imaginando um ego autônomo, estamos em contradição com a natureza das coisas, o que se exprime por frustração e tormentos sem fim. Consagrar toda  a nossa energia a essa entidade imaginária tem efeitos deletérios sobre a qualidade de nossa vida.
                O ego só pode oferecer uma confiança em si factícia, fundada em atributos precários - o poder, o sucesso, a beleza e a força física, o brio intelectual e a opinião dos outros - e sobre tudo o que constitui nossa imagem. A verdadeira confiança em si é outra coisa. É paradoxalmente, uma qualidade natural da ausência de ego. Dissipar a ilusão do ego combina com um sentimento de liberdade que não está mais submetido às contingências emocionais. A confiança em si é acompanhada de uma vulnerabilidade em face dos julgamentos de outrem e de uma aceitação interior das circunstâncias, quaisquer que sejam elas. Essa liberdade se manifesta por um sentimento de abertura a tudo que se apresenta. Não se trata da frieza distante, do desapego seco ou da indiferença que se imagina, por vezes, quando se representa o desapego budista. mas de uma disponibilidade benevolente e corajosa que se estende a todos os seres.
                Quando o ego não se compraz com seus triunfos, ele se alimenta de seus fracassos colocando-se como vítima. Alimentando por suas constantes ruminações, seu sofrimento lhe confim ar sua existência tanto quanto sua euforia. Que ele se sinta no auge, diminuído, ofendido ou ignorado, o ego se consolida dando atenção apenas a si mesmo. "O ego é o resultado de uma atividade mental que cria e 'mantêm em vida' uma entidade imaginária em nossa mente". É um impostor que se ilude com o próprio jogo. Uma das funções da visão penetrante, vipashyana, é desmascarar a impostura do ego.
                Na verdade, nós não somos esse ego, não somos essa raiva, não somos esse desespero. Nosso nível de experiência mais fundamental é o da consciência pura, essa qualidade primeira da qual falamos anteriormente e que é o fundamento de toda experiência, toda emoção, todo raciocínio, todo conceito e toda construção mental,  o ego inclusive. Mas, atenção, essa consciência pura, essa "presença desperta" não é uma nova entidade, mais sutil ainda do que o ego: ela é uma qualidade fundamental de nossa corrente mental.
                O ego não é nada mais do que uma construção mental mais duradoura do que as outras porque é constantemente reforçada por nossas cadeias de pensamentos. Isso não impede esse conceito ilusório de ser desprovido de existência própria. Esse rótulo tenaz só se fixa sobre o fluxo de nossa consciência graças à cola mágica da confusão mental.
                Para desmascarar a impostura do eu, é preciso levar a investigação até o fim.
                Aquele que suspeita de um ladrão em sua casa deve inspecionar cada cômodo, cada canto, cada esconderijo possível até ter certeza de que não há ninguém. Só assim ele poderá ficar em paz.


 Matthieu Ricard - A Arte de Meditar

Este texto foi publicado anteriormente em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/%C3%A0-procura-do-ego/10150444599375712

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A força de ganhar e a força de perder


"Viver nos obriga ao exercício constante de saber abrir e fechar, expandir e contrair, ganhar e perder, ampliar e reduzir, amar e deixar ir. Isso também acontece em nosso corpo: cada inspiração é seguida pela expiração, na qual nos despedimos do ar velho que já cumpriu sua função. Cada sístole é seguida de uma diástole. Um movimento ininterrupto, no qual a Vida canta seu mantra sutilmente sonoro: tomar e soltar, tomar e soltar, tomar e soltar. Somos felizes e bem sucedidos quando nos colocamos em sintonia com ambas as forças da Vida: a força da expansão e a força da retração, a força de ganhar e a força de perder.”

Joan Garriga

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Oração da Paz




Hoje é dia se São Francisco de Assis, e é de sua autoria a oração mais bonita que eu conheço:

Oração da Paz

Senhor! Fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

São Francisco de Assis

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Conto Indígena




Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse: - Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.Um é Mau - É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.

O outro é Bom - É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade,humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: - Qual lobo vence?

O velho índio respondeu:


" - Aquele que você alimenta".

Texto publicado anteriormente por Evandro Seido em: https://www.facebook.com/notes/evandro-seido/conto-ind%C3%ADgena/10150109688070712