quarta-feira, 27 de junho de 2012

As crenças e a realidade



Meus pensamentos podem ser energizados ou enfraquecidos, se eu conseguir perceber o que estou pensando. Esta percepção evidencia uma diferença. Quando estou consciente - em outras palavras, quando estou agindo como um aluno da vida - posso observar os processos mentais de "Reid". Posso concordar com os pensamentos produzidos pela mente de "Reid" ou discordar deles. Posso escolher quais os pensamentos que quero energizar, concordando com eles, e quais os que desejo enfraquecer, discordando com eles. Assim, posso escolher as crenças e pensamentos que "Reid" poderá manifestar na sua vida.

Trecho do livro "Cartas de um sobrevivente" escrito por O. C. Simonton e Reid Henson, publicado pela  Summus Editora.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Generosidade e serviço.



"Quando está martelando um prego numa peça de madeira se, acidentalmente, você bater no dedo, sua mão direita porá o martelo de lado e cuidará de sua mão esquerda. Não há discriminação: 'Eu sou a mão direita dando a você, mão esquerda, uma ajuda.' Ajudar a mão esquerda é ajudar a mão direita. Essa é a prática de não se apoiar na forma, e a felicidade resultante é sem limite. É a maneira de um bodhisattva praticar generosidade e serviço.

Thich Nhat Hanh - no livro Cultivando a mente do amor.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pras pessoas de alma bem pequena




Blues da Piedade
(Cazuza)

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cultivando a Mente do Amor


"Diz-se no budismo que a consciência é composta de duas partes - "depósito da consciência" (alayavijñana) e "mente da consciência" (manovijñana). No nosso depósito da consciência encontra-se enterrado todo tipo de semente, representando tudo que tenhamos feito, experimentado ou percebido. Quando uma semente é aguada, ela se manifesta em nossa mente da consciência. A função da meditação é cultivar o jardim do nosso depósito da consciência. Como jardineiros, temos que confiar na terra, sabendo que todas as sementes de amor e de compreenção, de felicidade e iluminação, já estão ali. Por isso não é necessário que pensemos muito ou tomemos notas durante uma palestra sobre o darma. Precisamos apenas estar ali e permitir que as sementes da compreenção, profundamente enterradas dentro de nós, sejam aguadas."

Thich Nhat Hanh

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Para superar o ressentimento



Todos nós, no decorrer da vida, acabamos acumulando ressentimentos que muitas vezes derivam de situações ocorridas ainda em nossa infância. Ressentimentos esses que nos fazem acumular grande quantidade de energia que poderia ser utilizada por nós de forma muito mais proveitosa. 

No livro dos Simonton, intitulado "Com a vida de Novo - uma abordagem de auto-ajuda para pacientes com câncer"  é descrita uma técnica (criada por Emmet Fox) simples de ser realizada, que me lembra um tipo de meditação budista chamada meditação do amor, e que descreverei a seguir.

De início pode parecer uma técnica superficial, como se os autores quisessem negar a sentimento de raiva que gera o ressentimento, enquanto sugerem que durante a visualização enviemos pensamentos positivos para a pessoa a quem precisamos perdoar. Mas, como eles descrevem no livro, o simples fato de mudarmos a nossa forma de pensar, faz com que possamos ver o fato ocorrido de uma outra perspectiva, entendendo melhor a situação.

Para realizar a visualização será preciso mais ou menos 5 minutos (dependendo do tempo que você demorar para fazer o relaxamento inicial - até o passo 6) e ela pode ser repetida sempre que você se pegar alimentando uma mágoa antiga, revivendo sem parar o que deveria ter dito ou feito ou lembrando-se do comportamento repreensível da outra pessoa. "As vezes ele não é necessário durante meses inteiros, enquanto que em outras ocasiões será necessário usá-lo meia duzia de vezes num só dia." Ela pode ser, inclusive realizado no momento em que a situação desagradável está ocorrendo.

Visualização para superar o ressentimento:

1. Sente-se em uma poltrona confortável, com os pés no chão, olhos fechados.
2. Tome consciência da sua respiração.
3. Inspire rapidamente algumas vezes e ao expirar diga mentalmente "relaxe".
4. Concentre-se no seu rosto e sinta as tensões dos olhos e da face. Crie uma imagem mental desta tensão - pode ser um nó apertado de uma corda ou um punho fechado- e mentalmente imagine que está relaxando e ficando confortável, como um pedaço de elástico.
5. sinta o seu rosto e olhos ficando relaxados. E, enquanto relaxa, sinta a onda de relaxamento se espalhando pelo seu corpo.
6. Faça o mesmo com todas as partes de seu corpo.
7. Crie uma imagem clara na sua mente da pessoa com quem está ressentido.
8. Imagine as coisas boas que estariam acontecendo com aquela pessoa. Veja-a recebendo amor, atenção, dinheiro, ou o que quer que seja bom para ela.
9. Observe as suas reações. Se tiver dificuldade em ver coisas boas acontecendo com a pessoa, é natural. Ficará mais fácil com a prática.
10. Pense no papel que você deve ter tido no fato ocorrido (cena estressante) e de que maneira poderia reinterpretar o incidente e o comportamento da outra pessoa. Imagine de que maneira a situação se apresenta do ponto de vista da outra pessoa.
11. Observe que você se sente mais relaxado, menos ressentido. Diga a si mesmo que levará consigo esta nova compreensão.
12. Agora está pronto para abrir os olhos e voltar às suas atividades normais.

SIMONTON, O. C.; MATTHEWS- SIMONTON, S.; CREIGHTON, J. L. Com a vida de novo: uma abordagem de auto-ajuda para pacientes com câncer. São Paulo: Summus, 1987. 240p.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Culpa, erro e amadurecimento



Certo dia tive uma impressionante intuição durante um momento de oração e de meditação especialmente significativo. Depois de sair de um estado de profundo relaxamento fui fazer minhas anotações e fiquei surpreso quando comecei a desenhar diagramas complexos e escrever páginas e mais páginas sobre a culpa.

Tomei uma série de notas que se encadeavam: "Se sou culpado, devo ser castigado. A severidade da punição deve ser proporcional ao crime. Meu comportamento provocou a ruína de outras vidas, portanto minha vida deve ser arruinada. Tenho de adquirir um problema ainda mais sério do que os problemas que causei aos outros. Tenho leucemia. Nenhum tratamento dá resultado. Minha vida tem de acabar. Estou morrendo. A balança da justiça divina ficará equilibrada".*

Essa imagem dos meus processos mentais em relação à minha doença parecia basear-se no conceito de "olho por olho". Assim, o castigo tinha de arruinar a minha vida e para isso a leucemia me parecia adequada.

(...)

Descobri que me sentia culpado por inúmeras razões, incluindo o meu divórcio, a morte de meu filho menor e o vício do meu filho mais velho. Comecei a rever a minha responsabilidade em cada uma dessas situações.

(...)

Ao rever essas questões, comecei a notar que o sentimento de culpa era fruto de minha consciência, o que me levava a reexaminar as minhas escolhas passadas e poder fazer escolhas mais benéficas no futuro. Descobri que a culpa podia ser um sinal de alerta importante, que me indicava que a escolha que estava fazendo não se harmonizava com a minha consciência.

Também descobri que não dera a importância devida aos muitos fatores relevantes de cada situação. Consequentemente, eu me considerava culpado por causar dificuldades sobre as quais tinha pouca influência. Tinha a minha parte de responsabilidade, como tantas outras pessoas, circunstâncias e fatos. Sem dúvida alguma, não tinha muito controle.

Acho que todos entenderão porque considero o sentimento de culpa uma das causas fundamentais que me levaram a adoecer. Foi interessante observar a progressão da melhora do meu estado em relação ao êxito que obtinha em resolver meu sentimento de culpa.

(...) Como aluno da vida, escolhi ser responsável pela minha vida e minha doença, e assim surgiu a responsabilidade e o poder de fazer algo a respeito de ambas. E assim eu me dei permissão para usar a capacidade que Deus me ofertara de escolher de novo. Esta decisão (...) aprofundou minha compreensão da vida e eliminou a culpa que vinha sentindo havia muitos anos. Escolhi considerar meus erros como escolhas erradas de um aluno da vida que continuava a aprender e a amadurecer.* Descobri que considerar os erros como uma parte natural do processo de aprendizagem era muito melhor do que se sentir culpado e ser castigado. Também considero a responsabilidade muito mais produtiva do que a perspectiva pessimista do sentimento de vítima.

Trechos do terceiro capítulo do livro "Cartas de um sobrevivente" escrito por O. C. Simonton e R. Henson, publicado pela  Summus Editora.

*Grifo meu.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

SER SUA PRÓPRIA MÃE



"Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, 
algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, 
e que solicita atenção e educação incessantes." 
C. G. Jung

Na procura de algo que fizesse sentido, encontrei uma criança sentada em uma escada da vida.
Rejeitada, abandonada no tempo, sem amor. Impedida de ser livre. 
Me pareceu familiar...
Custo a reconhecer. Mas aos poucos vou me lembrando de quem é. 
Como a abandonei? Quando? Como me esqueci dela por tanto tempo?
Quero dizer algo, fazer algo, mas permaneço imóvel. Não sei por onde. 
Não sei se ainda vale a pena. 
Não sei como isto aconteceu, só sei que ela foi abandonada por mim.
Agora sei o porquê de tanta insatisfação, de tanta busca...
Vivi estes anos todos sem a minha criança interior.
Agora que a encontrei, o que dizer?
Ela que costumava ser tão feliz, vejo-a assim, quase sem vida.
Mas, sobreviveu! Viveu sem amor, sem meu cuidado todo esse tempo. Viveu sem mãe.
E eu mal consegui sobreviver. 
Queria ser um adulto com maturidade e busquei a vida todo algo que completasse minhas inquietações, tirasse a minha angustia. Nada encontrei que preenchesse esse vazio em mim. 
Encontrei apenas distrações, que confundiram a busca do meu bem estar no mundo.
Agora tudo faz sentido, tudo se encaixa. Um adulto sem a criança interna, um adulto pela metade. 
Neste instante da minha vida, eu comecei a sentir uma harmonia interna. Quantas vezes me perguntei o que me faria feliz, o que me faltava.
Aproximo-me dela meio constrangido, envergonhado, e digo: 
Está tudo bem. 
Sei que você esta amedrontada e magoada. Mas agora sou adulto e tomarei conta de você. 
Eu não sabia como fazer para te manter comigo, e cedi demais aos meus nãos, a minha repressão. Eu não conseguia aceitar e cuidar de todos os meus personagens internos. Principalmente aqueles que cometiam erros, ou faziam bobagens, que me mostravam que não era perfeita. E eu queria muito ser. 
Agora entendi. Você não precisa mais sentir medo. Vou protegê-la, serei uma mãe amorosa e sempre presente ao seu lado.
Lamento não ter conversado com você todos esses anos e por sempre tê-la censurado. 
Desejo compensar o tempo em que estivemos afastados. 
Resgatar contigo o que me fazia feliz na infância. 
Lembrar que os momentos mais felizes eram aqueles em que eu era aceito e amado pelo que era.
Os momentos de autenticidade em que sabia ser intimo da minha criança.
Como adulto, não conseguia mais ser íntimo de ninguém porque não sabia ser íntimo de mim. 
Agora serei o melhor que puder minha melhor mãe de mim.

Telma P Lenzi
(CRP: 12/00165)

Publicado inicialmente em: http://www.sistemica.com.br/?action=cronicas.php