quinta-feira, 7 de junho de 2012

Culpa, erro e amadurecimento



Certo dia tive uma impressionante intuição durante um momento de oração e de meditação especialmente significativo. Depois de sair de um estado de profundo relaxamento fui fazer minhas anotações e fiquei surpreso quando comecei a desenhar diagramas complexos e escrever páginas e mais páginas sobre a culpa.

Tomei uma série de notas que se encadeavam: "Se sou culpado, devo ser castigado. A severidade da punição deve ser proporcional ao crime. Meu comportamento provocou a ruína de outras vidas, portanto minha vida deve ser arruinada. Tenho de adquirir um problema ainda mais sério do que os problemas que causei aos outros. Tenho leucemia. Nenhum tratamento dá resultado. Minha vida tem de acabar. Estou morrendo. A balança da justiça divina ficará equilibrada".*

Essa imagem dos meus processos mentais em relação à minha doença parecia basear-se no conceito de "olho por olho". Assim, o castigo tinha de arruinar a minha vida e para isso a leucemia me parecia adequada.

(...)

Descobri que me sentia culpado por inúmeras razões, incluindo o meu divórcio, a morte de meu filho menor e o vício do meu filho mais velho. Comecei a rever a minha responsabilidade em cada uma dessas situações.

(...)

Ao rever essas questões, comecei a notar que o sentimento de culpa era fruto de minha consciência, o que me levava a reexaminar as minhas escolhas passadas e poder fazer escolhas mais benéficas no futuro. Descobri que a culpa podia ser um sinal de alerta importante, que me indicava que a escolha que estava fazendo não se harmonizava com a minha consciência.

Também descobri que não dera a importância devida aos muitos fatores relevantes de cada situação. Consequentemente, eu me considerava culpado por causar dificuldades sobre as quais tinha pouca influência. Tinha a minha parte de responsabilidade, como tantas outras pessoas, circunstâncias e fatos. Sem dúvida alguma, não tinha muito controle.

Acho que todos entenderão porque considero o sentimento de culpa uma das causas fundamentais que me levaram a adoecer. Foi interessante observar a progressão da melhora do meu estado em relação ao êxito que obtinha em resolver meu sentimento de culpa.

(...) Como aluno da vida, escolhi ser responsável pela minha vida e minha doença, e assim surgiu a responsabilidade e o poder de fazer algo a respeito de ambas. E assim eu me dei permissão para usar a capacidade que Deus me ofertara de escolher de novo. Esta decisão (...) aprofundou minha compreensão da vida e eliminou a culpa que vinha sentindo havia muitos anos. Escolhi considerar meus erros como escolhas erradas de um aluno da vida que continuava a aprender e a amadurecer.* Descobri que considerar os erros como uma parte natural do processo de aprendizagem era muito melhor do que se sentir culpado e ser castigado. Também considero a responsabilidade muito mais produtiva do que a perspectiva pessimista do sentimento de vítima.

Trechos do terceiro capítulo do livro "Cartas de um sobrevivente" escrito por O. C. Simonton e R. Henson, publicado pela  Summus Editora.

*Grifo meu.

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