Onde está o
silêncio? Onde está a solidão? Onde está o Amor?
Definitivamente,
eles não podem ser encontrados em lugar nenhum exceto na base de nosso próprio
ser. Lá, nas profundezas silenciosas, não há mais distinção entre o Eu e o
Não-eu. Há perfeita paz, porque estamos assentados no Amor infinito, criativo e
redentor. Lá encontramos Deus, que os olhos não podem ver, e em Quem, como diz
São Paulo, “temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28). Nele também
descobrimos a solidão, como disse São João da Cruz, descobrimos que o Tudo e o
Nada se encontram e são o Mesmo.
Se não há silêncio
além e dentro das muitas palavras de doutrina, não há religião, apenas uma
ideologia religiosa. Porque religião vai além das palavras e ações, e chega à
verdade última somente no silêncio e no Amor. Onde falta este silêncio, onde há
apenas “muitas palavras” e não a Palavra Única há muita agitação e atividade,
mas não há paz, nem pensamento profundo, nem compreensão, nem tranqüilidade
interior. Onde não há paz, não há luz nem amor. A mente hiperativa aparenta a
si mesma estar desperta e produtiva, mas está sonhando, levada pela fantasia e
pela dúvida. Somente no silêncio e na solidão, na tranqüilidade da adoração, na
paz reverente da oração, na adoração na qual o ego-eu inteiro silencia e se
rebaixa na presença do Deus Invisível para receber Sua única Palavra de Amor;
somente nessas “atividades” que são “não-ações”, o espírito desperta
verdadeiramente do sonho de uma existência variada, confusa e agitada.
Precisamente
devido a isso, o homem moderno ocidental tem medo da solidão. Ele é incapaz de
ficar sozinho, em silêncio. E está transmitindo sua
enfermidade mental e espiritual aos homens do Oriente. A Ásia vê-se gravemente
tentada pela violência e pelo ativismo do Ocidente e aos poucos está perdendo o
controle de seu tradicional respeito pela sabedoria silenciosa. Por isso, é
ainda mais necessário agora redescobrir o clima de solidão e de silêncio: não
que todo o mundo possa se afastar e viver sozinho. Mas, em momentos de
silêncio, de meditação, de esclarecimento e de paz, aprendemos a guardar silêncio
e ficarmos sozinhos em toda parte. Aprendemos a viver na atmosfera de solidão
mesmo no meio das multidões. Não “divididos”, mas um com todos no Amor de Deus.
Pois aprendemos a ser Ouvintes que são não Não-Ouvintes e aprendemos a esquecer
todas as palavras e escutar apenas a Palavra Única que parece ser a
Não-Palavra. Abrimos a porta interior do coração para os silêncios infinitos do
Espírito, de cujos abismos jorra sem falha o amor e se dá a todos. Somente em
Seu silêncio pode-se distinguir a verdade das palavras, não em seu isolamento,
mas em seu apontar para unidade central do Amor. Todas as palavras, então,
dizem somente uma coisa: que tudo é amor.
Thomas Merton
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