quarta-feira, 19 de setembro de 2012

AMOR E SOLIDÃO



Onde está o silêncio? Onde está a solidão? Onde está o Amor?

Definitivamente, eles não podem ser encontrados em lugar nenhum exceto na base de nosso próprio ser. Lá, nas profundezas silenciosas, não há mais distinção entre o Eu e o Não-eu. Há perfeita paz, porque estamos assentados no Amor infinito, criativo e redentor. Lá encontramos Deus, que os olhos não podem ver, e em Quem, como diz São Paulo, “temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28). Nele também descobrimos a solidão, como disse São João da Cruz, descobrimos que o Tudo e o Nada se encontram e são o Mesmo.
Se não há silêncio além e dentro das muitas palavras de doutrina, não há religião, apenas uma ideologia religiosa. Porque religião vai além das palavras e ações, e chega à verdade última somente no silêncio e no Amor. Onde falta este silêncio, onde há apenas “muitas palavras” e não a Palavra Única há muita agitação e atividade, mas não há paz, nem pensamento profundo, nem compreensão, nem tranqüilidade interior. Onde não há paz, não há luz nem amor. A mente hiperativa aparenta a si mesma estar desperta e produtiva, mas está sonhando, levada pela fantasia e pela dúvida. Somente no silêncio e na solidão, na tranqüilidade da adoração, na paz reverente da oração, na adoração na qual o ego-eu inteiro silencia e se rebaixa na presença do Deus Invisível para receber Sua única Palavra de Amor; somente nessas “atividades” que são “não-ações”, o espírito desperta verdadeiramente do sonho de uma existência variada, confusa e agitada.
Precisamente devido a isso, o homem moderno ocidental tem medo da solidão. Ele é incapaz de ficar sozinho, em silêncio. E está transmitindo sua enfermidade mental e espiritual aos homens do Oriente. A Ásia vê-se gravemente tentada pela violência e pelo ativismo do Ocidente e aos poucos está perdendo o controle de seu tradicional respeito pela sabedoria silenciosa. Por isso, é ainda mais necessário agora redescobrir o clima de solidão e de silêncio: não que todo o mundo possa se afastar e viver sozinho. Mas, em momentos de silêncio, de meditação, de esclarecimento e de paz, aprendemos a guardar silêncio e ficarmos sozinhos em toda parte. Aprendemos a viver na atmosfera de solidão mesmo no meio das multidões. Não “divididos”, mas um com todos no Amor de Deus. Pois aprendemos a ser Ouvintes que são não Não-Ouvintes e aprendemos a esquecer todas as palavras e escutar apenas a Palavra Única que parece ser a Não-Palavra. Abrimos a porta interior do coração para os silêncios infinitos do Espírito, de cujos abismos jorra sem falha o amor e se dá a todos. Somente em Seu silêncio pode-se distinguir a verdade das palavras, não em seu isolamento, mas em seu apontar para unidade central do Amor. Todas as palavras, então, dizem somente uma coisa: que tudo é amor.

Thomas Merton

Este texto foi publicado inicialmente no blog Nuvem Vazia.

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