segunda-feira, 6 de agosto de 2012

MEDITAÇÃO: DEIXE SER O QUE É



O ensinamento do Buda corresponde a um modo de vida. É um caminho para se viver uma vida equilibrada, serena e proveitosa: um caminho que nos oferece uma saída para a série infindável de problemas e lutas que enfrentamos na vida. Podemos descobrir este caminho na meditação, uma via que nos abre para o significado da iluminação. 

Embora a meditação seja, na verdade, muito simples, é fácil nos confundirmos com as muitas e diferentes descrições das práticas meditativas. Esqueça-as todas e apenas sente-se em silêncio. Fique muito quieto e relaxado, e não tente fazer nada. Deixe tudo - pensamentos, sentimentos e conceitos - passar por sua mente, sem atrair sua atenção. Não agarre as idéias ou pensamentos à medida que vêm e vão, nem tente manipulá-los. Quando você acha que tem que fazer alguma coisa em sua meditação, apenas a torna mais difícil. Deixe que a meditação se faça por si mesma.

Depois de ter aprendido a deixar os pensamentos passar por você, deles diminuem de velocidade e quase desaparecem. Então, atrás do fluxo dos pensamentos, você sentirá uma sensação que constitui a base da meditação. Quando entrar em contanto com este lugar silencioso que há por trás de seus diálogos internos, deixe que sua consciência dele fique mais forte. Você pode simplesmente repousar nesta quietude, porque, nela, não há nada a fazer; não há motivo algum para produzir alguma coisa ou parar alguma coisa. Apenas deixe tudo ser.

Quando meditamos deste modo simples e receptivo, a qualidade meditativa gradualmente se torna mais pronunciada e sua experiência mais imediata. Após cada meditação, a luz desta experiência permanecerá e se fortalecerá com a prática. A meditação simplesmente vem por si própria, como o Sol da manhã; a atenção interior, uma vez tocada, irradia-se naturalmente. Todavia, encontrar esta atenção interior requer prática diária, de modo que é importante reservar tempo para a meditação.

À medida que perseverarmos em nossa prática, saberemos, ao examinar nossas vidas, se estamos no caminho certo e se a nossa meditação é eficaz. Quando a nossa mente está serena e mais amorosa, quando as nossas emoções são constantes e estáveis, e a nossa vida transcorre sem tropeços, então saberemos que estamos progredindo.

O silêncio interior que brota da meditação alivia a tensão destes tempos de mudanças rápidas, em que é tão fácil perdermos nosso senso de estabilidade e de equilíbrio. Ao tentar fazer coisas demais em tempo muito curto, podemos ficar agitados e transtornados. Porém, quando nossa mente está relaxada e quieta, a vida se torna simples e equilibrada, livre de extremos que nos descontrolam. Quando estamos equilibrados, somos saudáveis - o corpo fica relaxado e a mente serena. Tornamo-nos isentos de confusões, decepções e ilusões. Aprendemos a nos orientar a partir da nossa experiência da meditação.

O equilíbrio é de importância capital, até mesmo em nossa relação com os ensinamentos espirituais. O Dharma, por exemplo, é um pouco como muitas faculdades e universidades - é-nos oferecida toda uma variedade de matérias interessantes, e podemos desperdiçar nosso tempo e energia tentando aprendê-las todas. Um grande mestre disse uma vez que o conhecimento é como as estrelas da noite - não podemos contar sua imensidão. Por isso, é melhor não tentar fazer tudo de uma só vez, mesmo no campo espiritual.

A princípio, é importante nos concentrarmos naqueles ensinamentos que são, de forma mais imediata, relevantes para nós - ensinamentos em relação aos quais nós temos uma formação. Caso contrário, jogamos fora o nosso tempo e ganhamos só frustração. Contente-se em progredir gradativamente, passo a passo, mantendo forte sua motivação e perseverando na prática da meditação. É uma grande verdade que, no desenvolvimento da meditação, o caminho mais lento é o mais rápido. Quando cultivamos nossa meditação cuidadosamente, sem forçar, os resultados serão sempre claros: embora possamos não perceber o crescimento a cada dia, ele é constante. Este caminho não é como uma chuva torrencial, que nos obriga a buscar abrigo; é mais como a neve que vai suavemente recobrindo a terra.

Torne sua meditação descontraída, aberta - sem vigiá-la ou forçá-la. As experiências da meditação virão. Estas experiências, em si, não são tão valiosas, mas podem constituir uma forma de prolongamento da meditação: certas experiências podem tocar as sutilezas da mente e ajudar a esclarecer a natureza da existência.

Tarthang Tulku Riponche - Expansão da Mente

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